Nova esperança a pacientes com depressão resistente.
Cetamina oferece nova esperança a pacientes com depressão resistente
Medicamento ajuda a reduzir pensamentos suicidas em casos de transtornos psiquiátricos graves, mas ainda é de alto custo no Brasil e pouco acessível na rede pública de saúde
Antidepressivo de ação rápida. É assim que a cetamina desponta como alternativa para pacientes com condições psiquiátricas graves e resistentes a outros medicamentos e tratamentos convencionais. No Brasil, o seu uso aumenta gradualmente, acompanhado de decisões judiciais que têm obrigado planos de saúde a custear a terapia. Uma única sessão, aplicada por via nasal ou injetável, custa de 800 a mais de 3 mil reais. No SUS, são poucos os locais onde já é disponibilizado.
Um em cada três pacientes com depressão não responde aos remédios tradicionais: cetamina surge como uma esperança para esses pacientes. Crédito: Freepik.
O medicamento tem sido aplicado em clínicas particulares do eixo Rio-São Paulo, em salas especializadas, que combinam a cetamina com cromoterapia, aromaterapia e psicoterapia. A melhora é rápida e significativa em quadros depressivos que não respondem a pelo menos dois antidepressivos diferentes. Rodolfo Damiano, pesquisador e professor do programa de pós-graduação do Instituto de Psiquiatria da USP, onde coordena o ambulatório de Depressão Resistente ao Tratamento, Autolesão e Suicidalidade, foi um dos pioneiros no uso da cetamina para tratar depressão resistente no Brasil. Segundo o médico, ela preenche uma lacuna importante.
“Até então, nenhum antidepressivo começava a atuar em menos de 15 dias, o que pode ser um longo tempo para pacientes com ideações suicidas. O alívio de sintomas depressivos, após a infusão da cetamina, ocorre, na maior parte dos casos, em até 72 horas”, destaca Damiano, autor, dentre outros, de Compreendendo o Suicídio.
Nova esperança a pacientes com depressão resistente
Um em cada três pacientes com depressão não responde aos remédios tradicionais. No Brasil, a depressão resistente ao tratamento (DRT) afeta cerca de 40% dos pacientes, segundo dados do TRAL (Treatment-Resistant Depression in Latin America). “A depressão resistente ao tratamento afeta milhões de pessoas globalmente, representando um fardo significativo para pacientes, famílias e custos socioeconômicos elevados.
A cetamina foi aprovada pelo FDA como terapia adjuvante para depressão resistente e para ideação suicida aguda, demonstrando eficácia nos casos em que outros tratamentos falharam. Com a recente aprovação como monoterapia, pela primeira vez um medicamento de ação rápida no sistema glutamatérgico pode ser usado isoladamente no tratamento da depressão resistente”, destaca o psiquiatra.
Atuação do antidepressivo
“Até então, nenhum antidepressivo começava a atuar em menos de 15 dias, o que pode ser um longo tempo para pacientes com ideações suicidas. O alívio de sintomas depressivos, após a infusão da cetamina, ocorre, na maior parte dos casos, em até 72 horas”, destaca o médico psiquiatra Rodolfo Damiano, autor, dentre outros, de Compreendendo o Suicídio e professor do programa de pós-graduação do Instituto de Psiquiatria da USP. Crédito: Veridiana Brandão.
A cetamina, bem como o seu derivado mais utilizado, a escetamina, é um anestésico e analgésico que foi desenvolvido na década de 1960 para uso médico. O Exército dos EUA usa a cetamina como anestésico no campo de batalha desde a Guerra do Vietnã. Ainda hoje é utilizada para o alívio da dor. Desde sua origem, surgiu como alternativa aos anestésicos tradicionais por sua segurança cardiovascular e sua capacidade de causar um estado dissociativo, ou seja, “desligar” a percepção da dor sem necessariamente provocar anestesia geral. Assim, sua utilização ilegal por jovens em festas como alucinógeno aconteceu nos anos 80.
Tratamento de quadros depressivos
Nos últimos anos, ganhou novo uso médico no tratamento de quadros depressivos, quando é necessário início mais rápido da ação medicamentosa. Ela está presente na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2019, aprovou, nos EUA, pelo FDA (Food and Drug Administration ou Administração de Alimentos e Medicamentos) para o tratamento de quadros depressivos. E um ano depois, recebeu aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil.
A cetamina age pela via do glutamato, um aminoácido presente no cérebro. Ela estimula a formação de novas conexões entre os neurônios, restaurando circuitos cerebrais que estão prejudicados em casos de depressão grave. Ao atuar diretamente no sistema nervoso central, produz efeitos antidepressivos e ansiolíticos.
“A cetamina restaura conexões neuronais que estavam prejudicadas pela depressão severa, oferecendo uma recuperação rápida e significativa dos sintomas”, explica Damiano. Apesar de o tratamento com cetamina não beneficiar igualmente todos os pacientes, os resultados são muito promissores. Estudos mostram que de 50% a 70% dos pacientes apresentam resposta positiva inicial; 30% a 50% atingem remissão completa dos sintomas depressivos.
O uso ilegal da cetamina
O uso ilegal da cetamina oferece graves riscos à saúde. Casos como as mortes do ator americano Matthew Perry, conhecido por seu papel na série Friends, e de Djidja Cardoso (dançarina do Boi Garantido, no Amazonas), mostram os perigos do uso recreativo ou ritualístico da substância.
“A cetamina deve ser uma solução no contexto psiquiátrico e não um problema para a saúde pública”, destaca Damiano, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria. O tratamento deve ocorrer exclusivamente em ambiente médico rigoroso, com supervisão especializada. Para isso, conscientização e fiscalização são fundamentais.
Sobre o médico psiquiatra Rodolfo Damiano (CRM-SP 190.747 | RQE 95.585):
O cuidado pelo outro com excelência. Essa é a missão do médico paulista Rodolfo Damiano, psiquiatra, palestrante, escritor, professor e pesquisador. Assim, com 32 anos e 6 livros publicados, aliando ciência e humanidade, teoria e prática, bem como, diálogo franco e tecnologia. Rodolfo já é referência, no Brasil e no exterior, em pesquisas nas áreas de ansiedade, depressão, TDAH, Covid-19 e prevenção ao suicídio.
Médico psiquiatra e doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), pós-doutorando em Psiquiatria pela USP, em parceria com Yale University e Ohio State University (EUA). Igualmente, é professor do programa de pós-graduação do Instituto de Psiquiatria da USP, onde também coordena o ambulatório de Depressão Resistente ao Tratamento, Autolesão e Suicidalidade.
Editor associado do Brazilian Journal of Psychiatry. CEO da Soul Clinic, no Rio de Janeiro, centro de medicina integrativa, e cofundador da Imensamente, plataforma de cursos em psiquiatria e saúde mental. Autor de Você Pode Amar e Ser Feliz (DISRUPTalks, 2024) e Cansei de Viver, e Agora? (Manole, 2024), e editor de Compreendendo o Suicídio (Editora Manole, 2021), Spirituality, Religiousness and Health (Springer, 2020), dentre outros. Voluntário da ONG Fraternidade sem Fronteiras, tendo participado de missões em Manaus (AM) e Madagascar e Malaui, na África. O amor transformando vidas, histórias e trajetórias. E a felicidade, tema central de seus estudos, a vitamina do corpo e da alma.
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