Por David V. Bydlowski, CEO da Rosh
Todo mundo conhece a história: a Kodak tinha a tecnologia da fotografia digital em mãos, não acreditou que seria o futuro e acabou quebrando anos depois. A história virou um caso clássico de como ignorar sinais de mudança de comportamento do consumidor pode custar caro.
Agora, o Pinterest corre o risco de seguir pelo mesmo caminho. Na última reunião do segundo trimestre, o CEO da empresa afirmou que os consumidores ainda teriam um longo caminho até confiar em agentes de inteligência artificial para realizar compras em seu lugar. Pois bem: eu não apenas discordo, como acredito que ele esteja deixando escapar uma mina de ouro que já está diante de seus olhos.
O Pinterest é um acervo vivo, com mais de 400 milhões de usuários ativos todos os meses. É uma das maiores vitrines de inspiração do mundo e uma potência de tráfego para o e-commerce. Basta uma rápida navegação para perceber como as pessoas usam a plataforma para planejar casamentos, remodelar suas casas, buscar referências de moda ou decidir o próximo destino de viagem. Conectar esse enorme inventário de intenções com agentes de IA capazes de transformar desejo em compra imediata poderia ser o bilhete dourado da empresa. Mas, ao que tudo indica, a companhia parece estar minimizando esse movimento.
Por que acredito tanto que o comportamento de compra migrará para os agentes de IA? A resposta está em três pilares: neutralidade, praticidade e personalização.
Em primeiro lugar, neutralidade. Em uma era em que todo conteúdo pode ser patrocinado ou manipulado por influenciadores pagos, conversar com um agente pode ser a forma mais direta de fugir do ruído e chegar a recomendações realmente alinhadas ao interesse do consumidor. Em vez de navegar por páginas cheias de banners, ele pode simplesmente pedir a um agente imparcial que mostre as melhores opções.
Em segundo lugar, praticidade. Pesquisar, comparar preços e analisar avaliações em dezenas de sites toma tempo. Um agente integrado a diferentes plataformas consegue fazer isso em segundos e entregar a informação mastigada, pronta para a tomada de decisão. A economia de esforço é tamanha que, uma vez habituado, dificilmente o consumidor voltará atrás.
Por fim, personalização. A IA aprende com cada interação, entendendo gostos, preferências e restrições. Esse grau de customização vai além do que qualquer vitrine de marketplace consegue entregar hoje. Imagine um agente que sabe exatamente o estilo de roupa que você gosta, o tamanho que veste, a faixa de preço que considera aceitável e ainda cruza isso com reviews de qualidade. Isso não é apenas conveniente: é revolucionário.
A convergência desses três fatores — neutralidade, praticidade e personalização — torna quase inevitável que compras online migrem para conversas com agentes. O consumidor sempre escolhe o caminho mais simples e confiável, e dessa vez não será diferente.
Se o Pinterest, com todo seu arsenal de dados visuais e comportamentais, não enxergar essa oportunidade, alguém mais vai enxergar. E, assim como a Kodak, a empresa pode acabar lembrada não pelo que construiu, mas pelo que deixou escapar.

