Vinces é um artista autoral situado na cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo. Com dois EPs lançados — “Festa” (2022) e “Turista no Prazer” (2024) — já é figurinha marcada nas casas de show da região do DDD 019. Com forte apelo estético e influências bem definidas, tem um som característico que bebe da fonte do hyperpop, mas não deixa de soar autêntico.
Produzido na Trash Records pelo já conhecido nas noites do interior DJ “Rabolaser”, o novo EP traz a atmosfera dos anteriores, mas com mais toques de maturidade e ousadia. “Campeão em Falhar” mostra a excentricidade do músico já no título e na faixa de introdução engenhosamente chamada “AUD20250330 – WA178”. Um instrumental de imersão que prepara para o que vem que é a faixa “meus amigos me abandonaram ;(“, que entra de forma surpreendente, mas não brusca, letra e titulo divertidos apesar da densidade do assunto abordado, junto a faixa introdutória é uma boa combinação de início para dar a tônica do que vem a seguir.
O EP tem como base principal o sentimento de angústia: a ansiedade da chegada dos 30 anos sem atingir a idealização do sonho comum. Mas, como não estamos falando de um artista comum, Vinces trata esses assuntos com humor caricato, como na faixa “BABY” (particularmente a minha preferida). Nela, não tem medo de denunciar a idade, trazendo expressões datadas e divertidas, acompanhadas de um instrumental denso que mergulha o ouvinte na experiência do EP. Talvez seja a faixa que melhor traduz quem é o artista.
Mesmo caricato e divertido, Vinces não tem medo de arriscar. Por conta disso, em determinado momento o EP se torna sério e denso. A sequência “BABY”, “Fantasmas” (com ótima participação de Laura Zuccolo, que deixa a música melódica e limpa) e “Campeão em Falhar” (madura e instrumentalmente plena, com potencial de HIT) funciona quase como uma linha temporal da vida do artista: começa na irreverência e desemboca na maturidade e nos anseios da vida adulta pós-30 anos. Recomendo ouvi-las na sequência (não que eu ache que tenha sido proposital, mas no caso do Vinces, é essa eventualidade que te mantém imerso, ansiando pelo que ainda pode vir).
O próprio Vinces resume essa virada com sinceridade e bom humor: “Gravar o EP Campeão em falhar foi a coisa mais ousada que fiz, mais do que mostrar minha bundinha na capa do EP anterior. Porque são estilos bem alternativos, experimentais e que passavam uma sensação de ou eu acreditava naquilo e apostava ou abandonava o barco. O hyperpop é muito maneiro. Além de poder juntar vários outros elementos do rock também, ou do pop punk. A temática também foi bem legal de alinhar com a estratégia de lançamento, pois o EP fala sobre essa expectativa e, portanto, a frustração de chegar aos 30 anos e ter falhado em todos os critérios sociais de sucesso. É uma ode ao sofrimento da frustração de uma idade simbólica para o mercado, e muitas vezes determinante para o sujeito. E de forma planejada, vou lançar esse EP na data do meu aniversário de 30 anos! Primeira vez que faço um lançamento assim. E também é a primeira vez que tenho uma enorme equipe por trás disso tudo. Uma delícia trabalhar com cada um! Enfim, cada faixa é diferente uma da outra, falando sobre pontos chamativos pra mim da experiência dos 30 anos. Estou animado!
Em suma, em “Campeão em Falhar” o artista demonstra atingir a maturidade sem medo de soar “cringe”, e sem perder a irreverência que o marcou. É dançante, é brega, é denso, é corajoso. É pra dançar, pra se divertir, pra sentir, pra derreter como um queijo minas do amor numa frigideira de desejo. O EP é maduro, mas não representa uma mudança completa de rota no repertório do artista — é, sim, um EP que mostra ser possível envelhecer sem perder a irreverência, a excentricidade e, principalmente, a vontade de fazer o que se faz de melhor.
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