Festa de Inauguração do grupo Teatro do Concreto. Sesc Pompeia recebe Festa de Inauguração do grupo brasiliense Teatro do Concreto

Espetáculo marca primeira temporada do Teatro do Concreto, de Brasília, em São Paulo. Em 2019, a companhia reconhecida por suas interações com o espaço urbano e intervenções pública completa 16 anos.

Festa de Inauguração do grupo Teatro do Concreto

Em 2011, durante uma manutenção no salão verde do Congresso Nacional que consistia em quebrar paredes para se descobrir as causas de um vazamento, foram encontradas frases escritas pelos operários responsáveis pela construção do prédio, inaugurado em 1960. As mensagens, que previam um futuro melhor para o país e a crença nas instituições democráticas do Brasil, foram lidas pelos integrantes da companhia brasiliense Teatro do Concreto como uma das inúmeras narrativas criadas ao longo do tempo que só são reveladas a partir de um processo de destruição. Com dramaturgia de João Turchi e direção de Francis Wilker, o espetáculo Festa de Inauguração estreia dia 30 de maio, quinta-feira, 21h30, no Sesc Pompeia.

Festa de Inauguração do grupo Teatro do Concreto

Construída sem tomar como base a noção de personagens ou de começo-meio-fim, Festa de Inauguração tem uma dramaturgia tecida a partir das falas e narrativas que não são reveladas espontaneamente, mas sim através da destruição. “Notamos que no percurso da humanidade, nas artes e nas trajetórias pessoais, existem narrativas soterradas que precisam vir à tona e, normalmente, esse processo acontece por meio da destruição”, diz Francis Wilker, diretor da montagem.

Para Wilker, o gesto de destruir ganha novas camadas e pode ser lido como uma metáfora para desmontes de políticas públicas, silenciamento de grupos minoritários, revisionismos históricos e reflexão sobre a história da arte. Esse ponto de partida foi endossado por uma série de seminários promovidos pela companhia que reuniu sociólogos, arquitetos, artistas visuais, rappers e dramaturgos para dialogarem sobre a possibilidade de se “ler” a cidade como um livro.

“Nos dedicamos a pensar na cidade como algo repleto de textos que precisam ser lidos, de discursos que precisam vir à tona”, diz o diretor, ressaltando que essa pesquisa fez com que Festa de Inauguração não fosse uma peça que falasse pelos operários ou sobre o processo de construção de Brasília, mas sim que esses fossem os elementos disparadores de uma série de reflexões sobre o ato de destruir e reconstruir – ciclo constante na humanidade.

João Turchi, artista goiano que reside em São Paulo, apesar de já ter trabalhado com Francis Wilker, escreve pela primeira para o Teatro de Concreto. Na construção dramatúrgica, Turchi decidiu dar luz à questão da história como algo que sempre foi manipulado pelo homem. “Esses textos encontrados em Brasília apontavam uma possibilidade de futuro pensada por esses trabalhadores – podemos associar essas imagens às inscrições rupestres de uma caverna, por exemplo. O que esses registros têm a nos dizer nos dias de hoje? Como contar isso a outro? Quais são as possíveis narrativas que existem aí?”, questiona.

A partir dessa provocação e das características que já são comuns ao grupo, como uma relação direta com a plateia e criação de peças que não se resumem a um só espaço cênico, Festa de Inauguração começa nas imediações do Sesc Pompeia. Dessa forma, a peça cria as metáforas a partir de um olhar arqueológico, onde o fim representa a continuidade de um ciclo que irá gerar novas leituras sobre o que foi destruído.

Sobre a experiência de dar a largada na primeira temporada em São Paulo, Francis Wilker espera trazer para a cidade as marcas que mais consagram a história do Teatro do Concreto, como a relação com o espaço alternativo e sua conexão com a cidade. “Brasília é uma cidade urbana, onde há muito concreto, e nosso grupo nasce sob essa égide”, conta. O diretor também destaca o fato de a companhia sempre trabalhar a partir de textos inéditos e das montagens dialogarem com a performance e não com um modelo tradicional de teatro.

Festa de Inauguração tem ainda cenário e figurino assinados por André Cortez, luz de Guilherme Bonfanti, do Teatro da Vertigem; e elenco composto por Gleide Firmino, Micheli Santini, Adilson Diaz e Diego Borges.

 

SERVIÇO

Festa de Inauguração

De 30 de maio a 23 de junho de 2019

Quintas, sextas e sábados, às 21h30, e domingos e feriado (20/06), às 18h30

Local: Espaço Cênico do SESC Pompeia (R. Clélia, 93 – Água Branca, São Paulo).

Ingressos: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) e R$ 6 (credencial plena).

Duração: 80 minutos. Classificação: 18 anos.

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