LIBERACE: FRESCURAS AO PIANO DE UM SHOWMAN

LIBERACE: FRESCURAS AO PIANO DE UM SHOWMAN PRECURSOR NA SAÍDA DO ARMÁRIO

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     Por Mauricio Kus

Grande sucesso na apresentação do Festival Internacional de Cannes, neste ano de 2013, vencedor do Prêmio Emmy de televisão, o filme “Behind the Candelabra” de Steven Soderbergh, não conseguiu exibição em telas de cinema, razão pela qual será apresentado no Brasil em canal pago de televisão.

Os grandes estúdios ficaram com medo da forma explicita com que Soderbergh, autor de grandes sucessos, inclusive a série “Onze homens e um segredo”, apresentou a história do amor de Liberace e seu protegido e namorado Scott Thorson (Matt Demon, na sétima colaboração com o diretor) e por esta razão ninguém ousou distribuir o filme para exibição nas telas de cinema.

“Behind the Candelabra” está agitando o mundo gay em todo o mundo, coleciona prêmios em festivais e os magnatas dos estúdios devem estar morrendo de arrependimento por não confiarem no filme, que acrescentaria milhões a seus cofres. Os grandes também erram.

Liberace foi uma figura sui generis, uma das primeiras vitimas da Aids, na época em que a doença não era conhecida e seus portadores e familiares se furtavam a revelar o infortúnio.

Assim aconteceu no Brasil com o cabeleireiro Markito, o primeiro brasileiro das chamadas celebridades e ser ceifado pela Aids, e ambos abriram os olhos da comunidade para esse flagelo que começou a ser encarado de frente, combatido, analisado e investigado pela medicina, com campanhas educativas, medidas preventivas, coquetéis de várias drogas, que reduziram enormemente o número de portadores do vírus.

O enfrentamento e a coragem de sair do armário foram as grandes armas anti-Aids do mundo ocidental.

Colaborou também a morte prematura de Rock Hudson, que pegou todos de surpresa e abriu os olhos para a insidiosa doença.

Liberace, se não fosse o showman, um pouco off, estrela de grandes shows em Las Vegas, virtuose do piano, seria um grande concertista de música erudita.

Tinha a coragem de se declarar gay nos anos 70/80, quando esta revelação era tabu e se portava com um super gay no palco, raiando as fronteiras do que o homem comum chamava de bicha louca.

Eu e Sarinha assistimos em 1982 um show de Liberace no Teatro do Hilton Hotel em Las Vegas, onde nos hospedamos.

Ele entrava no palco num extravagante Rolls Royce cor de rosa, dirigido por um rapaz saradão de 1,90 de altura, que descia do carro e abria a porta para ele descer.

Se vestia de forma extravagante com um terno super dourado, que brilhava com os canhões de luz voltados para sua figura.

Abraçava o motorista e elogiava o rapaz, perguntando à platéia “Vocês não estão com inveja da beleza deste meu namoradinho?”.

Cantava,  dançava, soltava piadas e ao se sentar na banqueta de um magnífico piano de cauda, dava show de interpretação num espetáculo que durava duas horas.

O piano tinha sempre um candelabro com velas acesas, daí o titulo do filme, que traduzido para o português é  “Atrás do candelabro”.

Em determinado momento, sentou-se na ponta do palco e estendeu o braço para os ocupantes da primeira fila para mostrar o anel que tinha no dedo.

Era um piano de cauda, todo de brilhante, tão grande que ocupava o espaço dos quatro dedos de sua mão. Terminava o show entrando no Rolls Royce, que era dirigido pelo namorado e entrava nos bastidores do palco.

Wladziu Valentino Liberace, nascido em 16 de maio de 1919 e falecido em 4 de fevereiro de 1987,  nasceu numa família de músicos.

Seu pai, o italiano Salvatore Liberace, tocava trombone na Filarmônica de Milwaukee, e sua mãe, americana de origem polaca Frances Zuchowski.

Tocava piano e seu irmão George era violonista, enquanto Liberace tinha aptidão excepcional pelo piano.

Aos sete ano tocou para Paderewski, que ajudou-o a entrar como bolsista no Colégio de Música de Wisconsin.

Tudo indicava que iria se tornar um pianista clássico, mas ao apresentar um recital não escolheu uma obra erudita.

Mas sim um arranjo virtuoso de uma obra popular, o que se tornaria sua marca registrada como showman.

Chamado de “O Liszt de Las Vegas” tocava todas as músicas com um arranjo pessoal e inimitável, o que o tornava único em seu trabalho.

Vestia-se forma luxuosa e espalhafatosa, e tornou-se notório colecionador, principalmente de pianos antigos, mobiliários antigos, pianos e carros que decoravam suas cinco luxuosas mansões.

Estão todos no Museu Liberace, inaugurado em 1979 e são resultado do instrumentista mais bem pago da época, em que amealhava cinco milhões de dólares anualmente.

Nos últimos anos de sua vida ficou abalado pela morte de sua mãe, em 1980 e o irmão George abatido pela leucemia, em 1983.

Despediu-se do público em novembro de 1986, num show no Radio City Music Hall e veio a falecer aos 67 anos, três meses depois. A Aids ganhou a batalha.

Hoje está enterrado ao lado da mãe e do irmão, num túmulo sob uma estátua gigante no Cemitério Forest Lawn, em Hollywood.

Mesmo sem ter exibição garantida em cinemas, “Behind the Candelabra”,  foi exibido fora de concurso em Cannes e proporcionou a Michael Douglas a maior emoção de sua carreira.

Recém saído de um câncer de garganta, deu um show de interpretação como Liberace, ganhando o Emmy deste ano, prêmio máximo para a televisão americana.

Faz uma dupla genial com Matt Demon, que representa o namorado do pianista.

Com quem teve caso desde que se conheceram em 1977, e com quem dividia as frescuras, maluquices, cirurgias plásticas, jóias e carros.

Surpreso com o imenso sucesso do filme em Cannes, e ainda fragilizado com a cura do doença, Michael Douglas chorou, como diz a revista “Rolling Stones” em uma entrevista na Croisett daquele balneário.

Na entrevista Douglas conta que seu pai, Kirk, conhecia Liberace e o cumprimentava quando se encontravam na rua.

“Achava estranho todas aquelas roupas e o cabelo torto que ele tinha.

Hoje eu entendo”, disse ele rindo, ao se referir à calvície de Lee escondida por uma peruca e ao vestuário extravagante dele.

Segundo Michael Douglas, “Liberace e todos que o conheceram se referem a ele como uma pessoa feliz, generosa, educada e talentosa.

Em tempo: Fiquei emocionado ao ver Debbie Reynolds como a mãe de Liberace no filme.

Eu a conheci pessoalmente quando visitou o Brasil em 1951 ao lado de Píer Angeli e Carleton Carpenter.

Num tour promocional da Metro, eis que voltavam do Festival de Mar Del Plata na Argentina.

Bati longos papos com a queridinha dos musicais da Metro e acompanhamos o rápido namoro de Píer Angeli com o milionário brasileiro Francisco Mattarazzo III, em São Paulo e no Guarujá.

Vinte anos depois eu e Sarinha assistimos em Nova York a um show dela num teatro da Broadway.

Depois do espetáculo, num pequeno quiosque à porta de saída, ela distribuía autógrafos e vendia seus CD’ s diretamente ao público.

Relembrei de sua visita ao Brasil e ela se emocionou, dizendo que viveu inesquecíveis momentos em nosso país.

Já era uma senhora, não mais a queridinha da Metro, a mocinha encantadora de filmes como “Cantando na chuva”.

Mas soube envelhecer com dignidade, aceitando um papel à altura de sua idade e condição física.

Debbie Reynolds é a última atriz viva de uma geração de jovens talentos da Metro nos anos 50, sobrevivendo a Jane Powell, Elizabeth Taylor, Gloria De Haven, Ann Miller, Kathrin Grayson, June Allison.

E mesmo a rainha das piscinas, Esther Williams, estrelas que encantaram gerações de cinéfilos e foram o estofo de um gênero chamado “musical”, marca registrada dos filmes saídos de seus estúdios.

Imagens: Divulgação/Internet

 

 

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