África Contemporânea é tema de grande exposição. Feições hipnotizantes estampam autorretratos que ironizam vultos de um passado barroco.
Metrópoles desoladoras são observadas através de janelas virtuais.
Painéis e instalações de dimensões colossais, vídeo-arte e performances sonoras chamam atenção para conexões culturais de um continente com o resto do mundo.
Essa é a África de hoje.
A partir de 20/01/18, o CCBB do Rio de Janeiro sedia Ex Africa, a maior exposição de arte contemporânea africana realizada no Brasil.
Em cartaz até 26 de março, a mostra pode ser vista, gratuitamente, de quarta a segunda-feira, entre 9h e 21h.
O patrocínio é do Banco do Brasil, com apoio da BB DTVM.
Fotografias, pinturas, esculturas, performances, vídeos e uma gigantesca instalação assinada pelo ganês Ibrahim Mahama se relacionam na exposição por meio de quatro eixos distintos:
Ecos da História, Corpos e Retratos, O Drama Urbano e Explosões musicais.
A interseção desses eixos mostra que o continente africano vive um contínuo processo de renovação criativa e artística, sublinha o curador da exposição, Alfons Hug.
Ele conta que esse raciocínio, partiu da frase Ex Africa semper aliquid novi, (da África sempre há novidades a reportar).
“A arte contemporânea africana deu as costas a dois preconceitos longamente estabelecidos:
- de um lado o estigma do artesanato e da ‘arte de aeroporto’ e de outro as referências etnológicas.
Ainda que não possam ser ignorados os efeitos do colonialismo, não deve ser subestimada a importância do intercâmbio artístico.
Isso é verificado na passagem do período colonial ao pós-colonial.
E, nesse contexto, a reação dos artistas em relação ao período que antecedeu a independência”, afirma o curador.
Assim como fortes conexões com elementos da cultura inglesa, francesa, portuguesa, hispânica e árabe.
“Em contraste com a arte ocidental, a arte contemporânea africana tem a vantagem de não precisar atender a nenhum cânone e poder orientar-se unicamente pelo aqui e agora”.
Tradição e modernidade
Uma crítica ácida ao colonialismo e ao tráfico de escravos estão em Ecos da História, primeira parte da exposição.
Nela, destaca-se uma instalação formada por objetos do tempo do comércio de escravos (algemas, ferros de marcar, moedas, mandados de captura).
Assinada pela artista nigeriana Ndidi Dike, a obra propõe uma obscura viagem no tempo, época impiedosa, marcada pelo sofrimento humano e pela cobiça.
As obras sugerem ainda uma reflexão amarga sobre a relação entre a pobreza, o desemprego, as recentes migrações e aspectos relacionados aos tempos dos navios negreiros.
Não deixam de lembrar as imposições de uma cultura religiosa ocidental e herança colonial, evidenciada na série de fotografias de Leonce Raphael Agbodjélou, artista do Benim.
Em parte de sua obra, ele evoca o Code Noir, decreto em que a administração colonial francesa da África Ocidental regulava a escravatura.
Cosmópoles
Paisagens desoladoras, ordem e caos, modernidade e ruínas.
Esses e tantos outros contrates das metrópoles africanas estão nas obras de O Drama Urbano.
Um dos destaques vai para a videoinstalação Ponte City, nome de um arranha-céu no centro de Joanesburgo.
Assinada pelos artistas sul-africanos Mikhael Subotsky e Patrick Waterhouse, a obra é composta por 12 janelas digitais que simulam a vista do edifício marcado por histórias de decadência e gentrificação.
Karo Akpokiere, nascido em Lagos (maior cidade da Nigéria e uma das maiores do mundo) assina ilustrações, com fortes elementos da cultura pop, que fazem uma sátira à miríade de anúncios publicitários que invadem diariamente a megalópole e refletem modismos, o mercado e suas desigualdades, a política e negociatas de toda natureza.
Expressões do corpo
A força expressiva da estética corporal está nas fotografias, vídeos e instalações de Corpos e Retratos, recorte que traz os famigerados autorretratos do senegalês Omar Victor Diop e a série Hairdo Revolution (revolução do penteado), com fotografias em preto e branco do nigeriano Okhai Ojeikere.
Outro destaque do eixo Corpos e Retratos é a arte multifacetada do angolano Nástio Mosquito.
Por meio de vídeos, performances, música experimental, instalações e poesia, o artista levanta questões em torno da fé, identidade, herança colonial, entre outros temas. “Para onde queremos ir? O que queremos construir?”, ele pergunta.
“Não seja cool, seja relevante. E se conseguir ser cool de maneira relevante, melhor ainda”, diz. Na mostra ele apresenta uma video instalação da música Hilário.
Galerias musicais
Poder, sexo, riqueza e religião são temas habituais da música africana.
Ganham relevância nesta sala onde os clichês da world music dão lugar à autenticidade do Naija Pop.
O New Afrika Shrine, de Femi Kuti, muito popular na cena nigeriana, também está entre os destaques.
*Integrando a programação da exposição Ex Africa, também será realizada no CCBB, no dia 22/1, um debate sobre a produção artística e os caminhos entre Brasil e África.
Mediado pelo curador Alfons Hug, o debate terá a participação do artista egípcio Youssef Limoud e do brasileiro Arjan Martins.
Ex Africa
CCBB Rio de Janeiro (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro)
De 20 de janeiro a 26 de março | quarta a segunda-feira, 9h às 21h.
Informações: www.bb.com.br/cultura
Entrada gratuita